O mundo dos adolescentes é cheio de tretas....
e pode ser útil saber sobre elas
Quem tem contato com adolescentes sabe que o assunto que dominou a segunda semana de maio de 2025 foi uma polêmica envolvendo três adolescentes influenciadoras digitais, um namorado famoso e muitas intrigas. Adultos podem ter a tentação de considerar isso algo irrelevante—com alguma razão—mas ignorar essa situação é deixar de compreender aspectos importantes da realidade dos nossos adolescentes. Se olharmos com atenção, perceberemos que essa confusão pode revelar muito sobre a maneira como eles percebem o mundo.
Listo aqui alguns pontos que merecem reflexão e diálogo em família:
Padrões de beleza: Todas as adolescentes envolvidas são consideradas belas segundo os rígidos parâmetros estéticos das mídias sociais. Elas, que influenciam diretamente as expectativas dos nossos adolescentes sobre aparência e beleza, realizaram procedimentos estéticos invasivos (rinoplastia, implantes mamários, lipoaspiração) antes mesmo de completarem 18 anos. Este fato, por si só, merece uma discussão séria e cuidadosa em casa sobre autoestima, pressões sociais e aceitação corporal.
Exclusão e empatia: Toda essa situação iniciou-se porque uma das adolescentes foi excluída do grupo. O impacto da discussão pública sobre os motivos da exclusão gerou grande identificação e empatia em muitos adolescentes, que se colocaram ao lado da jovem excluída. As tentativas das outras envolvidas de negar ou justificar a situação tiveram pouca eficácia em diminuir a solidariedade que surgiu em defesa da adolescente que se apresentou vulnerável. Isso abre espaço para conversas importantes sobre exclusão social, amizade e empatia.
Exposição pública e saúde mental: Todas as adolescentes envolvidas são menores de idade e estudam regularmente, mas afirmam claramente que as mídias sociais são seu trabalho. Não há, aparentemente, grande reflexão por parte delas sobre o impacto psicológico e emocional dessa exposição constante de suas vidas privadas. Cabe aqui uma reflexão: é saudável para adolescentes que suas questões pessoais sejam amplamente debatidas de forma pública? E quais as consequências emocionais disso?
O papel dos pais: As mães das adolescentes também entraram publicamente no debate. Uma mãe apelou ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), exigindo que sua filha fosse tratada com mais respeito e cuidado. Outra mãe criticou-a por não ter imediatamente ido buscar a filha excluída da situação conflituosa, levantando questões importantes: qual é o papel dos pais diante do sofrimento social dos filhos? Quando e como devemos intervir em situações públicas e contratuais envolvendo adolescentes? Será que não devemos repensar nas nossas leis e propor um reorganização para proteger os adolescêncentes do risco de excesso de exposição, assim como fizemos com o uso de celulares nas escolas? Uma terceira mãe resumiu com sabedoria: crescer hoje é extremamente difícil, e muitas vezes estamos todos um pouco perdidos.
Os nossos adolescentes sabem os nomes, sobrenomes, cor do esmalte e como são os quartos das personagens envolvidas e expostas. Nós não precisamos saber de nada disso. Mas é importante pensar que eventos como este são mais do que "simples dramas adolescentes". Eles oferecem uma oportunidade importante para fortalecermos o diálogo em casa, abordando questões como empatia, autoestima, responsabilidade digital e saúde mental. Como pais, nosso papel não é somente proteger nossos filhos das dificuldades, mas também ajudá-los a desenvolver recursos emocionais para lidar com desafios interpessoais inevitáveis. Aproveitem essa ocasião para conversar abertamente com seus filhos adolescentes, construindo juntos ferramentas valiosas para toda a vida.
Daniela Ceron-Litvoc (psiquiatra)
Nessa matéria, o meu foco principal era salientar a importância de ter curiosidade pelo que os adolescentes pensam e acho. Como pais, antes de ensinar ou aconselhar, temos que entender. E, muitas vezes, a gente está tão preocupado em ensinar que esquecemos da parte anterior.
Link do instagram: https://www.instagram.com/p/DHyCFJXuIFf/?igsh=bmRtcjdoYm44ZXN2
A série é muito boa e vale a pena cada minuto. Foi lançada há 15 dias e impactou muita gente. O tema central é perguntar o por quê que um menino, que ainda faz xixi nas calças, está sendo preso e acusado de atrocidades.
Nos debates e opiniões que vi, rapidamente, o centro das questões eram: se o personagem central é ou não é um psicopata, e o que é o movimento “incel” (involuntary celibates). Mas a série pode abrir para a discussão de um tema muito relevante para cada família com adolescentes: a relação entre pais e filhos na era das telas.
Um rapaz inteligente, bom aluno, de uma família normal e que, como todos os adolescentes, vivia trancado em seu quarto, no seu computador. Parecia que estava tudo bem, até a polícia vir prendê-lo. Apesar da boa relação com os pais, ninguém percebeu nenhum indício de problemas. Por que ele não procurou os pais para conversar? Porque os pais não perceberam nada?
A série pode nos ajudar a refletir se, às vezes, não percebemos que faz tempo que não olhamos para os nossos filhos com curiosidade pela sua rotina, para o que eles pensam, o que eles têm feito. Os adolescente não estão muito interessados, de forma geral, em sair das suas telas e do convívio com os amigos, para passar tempo com os adultos. Não é uma tarefa muito fácil e, muitas vezes, nem é gratificante. Ao mesmo tempo, são nossos filhos e precisamos abrir esse caminho. Saber em que mundo eles vivem, ainda mais nessa vastidão que eles têm acesso via internet, é cada vez mais difícil, mas cada vez mais fundamental. Vale a pena assistir a série a trazer essa discussão para dentro de casa.
Primeiro Capítulo:
Verdades muito duras, com desfechos catastróficos, são difíceis de assimilar, principalmente para os jovens. Eles têm uma tendência maior a não integrar fatos emocionalmente pesados, agarrando-se a uma sensação de normalidade que geralmente lhes dá um senso de proteção. Lembre-se disso ao conversar com uma criança ou adolescente em apuros.
Capítulo escola:
Tudo aquilo que desconhecemos da realidade da vida deles. Como é o clima na escola? Como eles se sentem? Como eles lidam com as situações? Quais são as forma de comunicação ao vivo e virtuais? Um ambiente que assusta e tensiona os adultos que estão lá dentro pela primeira vez, mas que os filhos desses mesmos adultos estão todos os dias.
Capítulo entrevista:
Um show de interpretação, sem dúvida. Todo mundo falou isso, e eu concordo. Mas, ao mesmo tempo, um desserviço para um menino que já estava perdido. Um profissional de saúde mental, mesmo em uma entrevista com finalidade não terapêutica, tem o dever de cuidar do seu entrevistado. A história já mostra que nenhum adulto foi figura de referência ou ajuda para o personagem. O entrevistador tenta uma aproximação sendo gentil (com comidas e bebidas); o adolescente, desconfiado a princípio, mostra abertura (com dificuldades e dentro de uma estrutura explosiva). O entrevistador quer respostas para o que aconteceu (foi contratado para isso), mas o menino quer saber se ele é gostável, se ainda existe alguma esperança, nos olhos do outro, de que ele possa se transformar em uma pessoa. Era a chance de construir um caminho de esperança; uma palavra sequer poderia ter feito muita diferença. O entrevistador se recusa. Mais uma vez, nenhum adulto foi capaz de compreender o mundo desse adolescente.
Capítulo família:
Ótimas reflexões do papel dos pais, suas possibilidade e suas impotências nas tentativas de controlar os que os filhos farão de suas próprias vidas. A série acerta muito em descrever uma família bem normal para aproximar a reflexão para o máximo de famílias possíveis. Sem culpados. Sem respostas fáceis.
Daniela Ceron-Litvoc - Psiquiatra
A entrevista no podcast “Fio da Meada” com a Juíza Vanessa Cavalieri (coloquei o link no fim do texto) é uma versão real da série, mas no microcosmo da classe média carioca. Ela conta episódios de famílias que foram surpreendidas pela polícia batendo na porta nas primeiras horas da manhã para prender seus filhos.
Mais do que ilustrar com casos reais assustadores, ela faz uma análise bonita do seu papel como juíza de adolescentes, que ela não trabalharia se não acreditasse que poderia fazer algo para mudar um ciclo estabelecido de violência. Um olhar da nossa sociedade, como abandonamos cronicamente as crianças e adolescentes que “dão problemas” e que seriam os que mais precisam de apoio.
Nos conta que depois da pandemia, o perfil de crimes mudou muito, com uma nova categoria: jovens e crianças da classe média promovendo discursos e crimes de ódio.
A entrevista ajuda a pensar nosso papel como pais, que temos sim responsabilidade de monitorar o ambiente virtual dos nossos filhos. Inclusive, dá dicas de como fazer isso.
Uma entrevista sensata que nos ajuda a entender um pouco mais o universo virtual dos nossos filhos e nossos papéis como pais. link: https://open.spotify.com/episode/4UOhi7a9TkLs7fxlffck0E?si=F8CoRbcZTlSk9h1Yqmta5w
Toda semana tem um tema novo em discussão. Uma semana é o bullying nas escolas, na outra é o impacto nocivo das redes sociais, na outra a discussão de volta em relação ao risco crescente de suicídio na adolescência.
Muitas informações, muitas vezes conflitantes, simplificações de como resolver problemas graves e sérios e nós, como pais, perdidos no meio dessa confusão.
Pensando nisso tudo tive a ideia de compartilhar links de textos e matérias dos temas em pauta a cada momento (porque tudo muda muito rápido) com uma pequena peneira da minha parte. Algo como: isso é bem interessante, relevante a abre para boas discussões; está todo mundo falando sobre esse assunto, mas tem um certo viés de olhar. Claro que é a minha opinião, que pode ser equivocada, mas tento embasar nos meus conhecimentos como profissional na área.
Pensei em dois formatos:
Um grupo de whatsapp que apenas eu posso postar. Nesse eu pretendo colocar os links dos temas em pauta do momento com comentários que eu ache pertinente.
Um segundo grupo, aberto, onde todos possam comentar e fomentar a discussão. Eu não pretendo ser organizadora desse grupo, pretendo participar conforme as minhas possibilidades, mas que seja um espaço livre e democrático para iniciar discussões. Lembrando que whatsapp não é um lugar propício para discussões mais elaboradas, mas serve como um fórum de direcionamento.
sugestão de tópicos
Grupo de whatsapp em que compartilho links de assuntos relevantes sobre criação de filhos e sociedade com comentários sucintos sobre a minha impressão.
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troca de ideias
Grupo de whatsapp aberto para postagens de todos, fomentando espaço para a discussão e trocas de ideias. Para que faça sentido, os participantes desse grupo precisam estar no grupo de sugestão de tópicos.
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