É esperado que os adolescentes tenham uma necessidade maior de pertencimento a grupos sociais. Diferente dos adultos, que apreciam a companhia dos amigos, mas já conquistaram maior independência das pressões sociais, os adolescentes PRECISAM pertencer. E a caixa alta é mesmo para exprimir que é uma necessidade absoluta, não relativizável.
A escola é o principal local de encontro com pares e socialização dos nossos filhos. Geralmente, é a partir dela que esses grupos se formam. Esses grupos costumam ser homogêneos, tanto no estilo quanto nos ideais. Afinal, é na adolescência que se abre a porta para o mundo dos conceitos e das ideias. Os adolescentes tendem a ficar deslumbrados com essa nova perspectiva de um pensamento conceitual, por isso, abraçam ideologias fervorosamente.
Nesses movimentos de identificação, muita movimentação entre os grupos acontece. Amizades se fazem e se desfazem até que os grupos encontrem alguma homogeneidade. Raiva, frustração e sentimento de abandono fazem parte desse processo—e, como sempre na adolescência, em uma intensidade estratosférica. Um dia o adolescente está inserido, no outro desinserido, no outro dia inserido em outro grupo, e, assim, com muitos altos e baixos, ele encontra o seu grupo.
Quando esse processo é vivenciado na vida real, a dor das exclusões é percebida em grupo. Eles têm a possibilidade de perceber, de ver o mal estar provocado pelo ostracismo social. Quando esse processo acontece no mundo virtual, quem é cancelado simplesmente desaparece—e a dor não é compartilhada. O elemento cancelado apenas desaparece. Não ter a possibilidade de de compartilhar em tempo real a reação no outro dos proprios atos é um dos elementos que explica porque as comunicações no mundo virtual tendem a ser mais violentas e menos empáticas.
Se, nesse processo, o adolescente tem o azar de acabar não se encaixando em nenhum grupo (nem dos populares, nem dos nerds, nem dos alternativos, nem dos bons de bola, nem dos ...), ele tende a procurar outras formas de grupo. O mais fácil hoje em dia são os grupos na vida virtual. Lá ele pode se apresentar com o seu avatar, selecionando apenas as características que sabe que serão aceitas pelo grupo. Lá, ele pode livrar-se do corpo desengonçado, cheio de espinhas, ainda meio incontrolável e, principalmente, imperfeito (magro demais, gordo demais, narigudo demais, alto demais, baixo demais, tímido demais e todas as milhares de inseguranças típicas). Lá, ele pode pertencer e, se der errado, ele pode apenas sumir, sem ter que aguentar a dor da exclusão. Por isso, os grupos virtuais são tão atrativos nessa idade.
Se os grupos virtuais são lugar de pertencimento, eles também são, na mesma medida, menos empáticos. O outro aparece como um objeto distanciado, sem carne e osso. O sofrimento do outro é apenas um conceito. Assim, se formam grupos virtuais que usam a exclusão na vida real como fonte de inclusão de membros e o ódio a quem os excluiu como mote de existência.
Para reverter esse ciclo, duas ações são relevantes:
Os pais precisam acompanhar o que seus filhos fazem no mundo virtual. É interessante pensar no mundo virtual como um espaço público, que é necessário orientação e monitoramento. Aquilo que é acessado virtualmente precisa ser comentado com os adultos para que os jovens tenham outras referências sobre o que esses conceitos significam na vida real.
As escolas precisam mediar esses processos de formação de grupos, moderando movimentos mais intensos, aumentando a sensibilidade para a empatia e identificando os que não estão conseguindo achar seu lugar como aqueles que precisam de mais amparo.
Esse link é bem interessante para exemplificar esse processo. Esse jovem americano, excluído na escola, encontrou acolhimento e pertencimento em grupos virtuais. Ele analisa, anos depois, a sua capacidade de decidir, aos 16 anos, se o que esses grupos compartilhavam como ideias era adequado. Obrigada Beatriz Ravagnani por compartilhar esse vídeo.
https://www.instagram.com/reel/DCPka3ayeoI/?igsh=MWRsZW80MjJ4ZG12aA==
Nessa matéria, o meu foco principal era salientar a importância de ter curiosidade pelo que os adolescentes pensam e acho. Como pais, antes de ensinar ou aconselhar, temos que entender. E, muitas vezes, a gente está tão preocupado em ensinar que esquecemos da parte anterior.
Link do instagram: https://www.instagram.com/p/DHyCFJXuIFf/?igsh=bmRtcjdoYm44ZXN2
A série é muito boa e vale a pena cada minuto. Foi lançada há 15 dias e impactou muita gente. O tema central é perguntar o por quê que um menino, que ainda faz xixi nas calças, está sendo preso e acusado de atrocidades.
Nos debates e opiniões que vi, rapidamente, o centro das questões eram: se o personagem central é ou não é um psicopata, e o que é o movimento “incel” (involuntary celibates). Mas a série pode abrir para a discussão de um tema muito relevante para cada família com adolescentes: a relação entre pais e filhos na era das telas.
Um rapaz inteligente, bom aluno, de uma família normal e que, como todos os adolescentes, vivia trancado em seu quarto, no seu computador. Parecia que estava tudo bem, até a polícia vir prendê-lo. Apesar da boa relação com os pais, ninguém percebeu nenhum indício de problemas. Por que ele não procurou os pais para conversar? Porque os pais não perceberam nada?
A série pode nos ajudar a refletir se, às vezes, não percebemos que faz tempo que não olhamos para os nossos filhos com curiosidade pela sua rotina, para o que eles pensam, o que eles têm feito. Os adolescente não estão muito interessados, de forma geral, em sair das suas telas e do convívio com os amigos, para passar tempo com os adultos. Não é uma tarefa muito fácil e, muitas vezes, nem é gratificante. Ao mesmo tempo, são nossos filhos e precisamos abrir esse caminho. Saber em que mundo eles vivem, ainda mais nessa vastidão que eles têm acesso via internet, é cada vez mais difícil, mas cada vez mais fundamental. Vale a pena assistir a série a trazer essa discussão para dentro de casa.
Primeiro Capítulo:
Verdades muito duras, com desfechos catastróficos, são difíceis de assimilar, principalmente para os jovens. Eles têm uma tendência maior a não integrar fatos emocionalmente pesados, agarrando-se a uma sensação de normalidade que geralmente lhes dá um senso de proteção. Lembre-se disso ao conversar com uma criança ou adolescente em apuros.
Capítulo escola:
Tudo aquilo que desconhecemos da realidade da vida deles. Como é o clima na escola? Como eles se sentem? Como eles lidam com as situações? Quais são as forma de comunicação ao vivo e virtuais? Um ambiente que assusta e tensiona os adultos que estão lá dentro pela primeira vez, mas que os filhos desses mesmos adultos estão todos os dias.
Capítulo entrevista:
Um show de interpretação, sem dúvida. Todo mundo falou isso, e eu concordo. Mas, ao mesmo tempo, um desserviço para um menino que já estava perdido. Um profissional de saúde mental, mesmo em uma entrevista com finalidade não terapêutica, tem o dever de cuidar do seu entrevistado. A história já mostra que nenhum adulto foi figura de referência ou ajuda para o personagem. O entrevistador tenta uma aproximação sendo gentil (com comidas e bebidas); o adolescente, desconfiado a princípio, mostra abertura (com dificuldades e dentro de uma estrutura explosiva). O entrevistador quer respostas para o que aconteceu (foi contratado para isso), mas o menino quer saber se ele é gostável, se ainda existe alguma esperança, nos olhos do outro, de que ele possa se transformar em uma pessoa. Era a chance de construir um caminho de esperança; uma palavra sequer poderia ter feito muita diferença. O entrevistador se recusa. Mais uma vez, nenhum adulto foi capaz de compreender o mundo desse adolescente.
Capítulo família:
Ótimas reflexões do papel dos pais, suas possibilidade e suas impotências nas tentativas de controlar os que os filhos farão de suas próprias vidas. A série acerta muito em descrever uma família bem normal para aproximar a reflexão para o máximo de famílias possíveis. Sem culpados. Sem respostas fáceis.
Daniela Ceron-Litvoc - Psiquiatra
A entrevista no podcast “Fio da Meada” com a Juíza Vanessa Cavalieri (coloquei o link no fim do texto) é uma versão real da série, mas no microcosmo da classe média carioca. Ela conta episódios de famílias que foram surpreendidas pela polícia batendo na porta nas primeiras horas da manhã para prender seus filhos.
Mais do que ilustrar com casos reais assustadores, ela faz uma análise bonita do seu papel como juíza de adolescentes, que ela não trabalharia se não acreditasse que poderia fazer algo para mudar um ciclo estabelecido de violência. Um olhar da nossa sociedade, como abandonamos cronicamente as crianças e adolescentes que “dão problemas” e que seriam os que mais precisam de apoio.
Nos conta que depois da pandemia, o perfil de crimes mudou muito, com uma nova categoria: jovens e crianças da classe média promovendo discursos e crimes de ódio.
A entrevista ajuda a pensar nosso papel como pais, que temos sim responsabilidade de monitorar o ambiente virtual dos nossos filhos. Inclusive, dá dicas de como fazer isso.
Uma entrevista sensata que nos ajuda a entender um pouco mais o universo virtual dos nossos filhos e nossos papéis como pais. link: https://open.spotify.com/episode/4UOhi7a9TkLs7fxlffck0E?si=F8CoRbcZTlSk9h1Yqmta5w
Toda semana tem um tema novo em discussão. Uma semana é o bullying nas escolas, na outra é o impacto nocivo das redes sociais, na outra a discussão de volta em relação ao risco crescente de suicídio na adolescência.
Muitas informações, muitas vezes conflitantes, simplificações de como resolver problemas graves e sérios e nós, como pais, perdidos no meio dessa confusão.
Pensando nisso tudo tive a ideia de compartilhar links de textos e matérias dos temas em pauta a cada momento (porque tudo muda muito rápido) com uma pequena peneira da minha parte. Algo como: isso é bem interessante, relevante a abre para boas discussões; está todo mundo falando sobre esse assunto, mas tem um certo viés de olhar. Claro que é a minha opinião, que pode ser equivocada, mas tento embasar nos meus conhecimentos como profissional na área.
Pensei em dois formatos:
Um grupo de whatsapp que apenas eu posso postar. Nesse eu pretendo colocar os links dos temas em pauta do momento com comentários que eu ache pertinente.
Um segundo grupo, aberto, onde todos possam comentar e fomentar a discussão. Eu não pretendo ser organizadora desse grupo, pretendo participar conforme as minhas possibilidades, mas que seja um espaço livre e democrático para iniciar discussões. Lembrando que whatsapp não é um lugar propício para discussões mais elaboradas, mas serve como um fórum de direcionamento.
sugestão de tópicos
Grupo de whatsapp em que compartilho links de assuntos relevantes sobre criação de filhos e sociedade com comentários sucintos sobre a minha impressão.
Entre no grupo!
troca de ideias
Grupo de whatsapp aberto para postagens de todos, fomentando espaço para a discussão e trocas de ideias. Para que faça sentido, os participantes desse grupo precisam estar no grupo de sugestão de tópicos.
Entre no grupo!